domenica 25 gennaio 2015

Abisso

Guardo il Tago in modo tale
che guardando dimentico di guardare,
e d’improvviso ciò mi getta
in braccio al vaneggiare-
cos’è essere-fiume, e scorrere?
Cos’è il mio starlo a guardare?

Sento, d’improvviso, poco,
vacuo, il momento, il luogo.
Tutto d’improvviso è vano –
anche il mio stare pensando.
Tutto – io e il mondo intorno –
È più che esteriore.

Perde tutto l’essere, restare,
e svanisce dal mio pensare.
Resto senza poter legare
con nome Essere, idea, anima
a me, alla terra e ai cieli…

E d’improvviso incontro Dio.

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Olho o Tejo, e de tal arte
Que me esquece olhar olhando,
E súbito isto me bate
De encontro ao devaneando —
O que é sério, e correr?
O que é está-lo eu a ver?

Sinto de repente pouco,
Vácuo, o momento, o lugar.
Tudo de repente é oco —
Mesmo o meu estar a pensar.
Tudo — eu e o mundo em redor —
Fica mais que exterior.

Perde tudo o ser, ficar,
E do pensar se me some.
Fico sem poder ligar
Ser, idéia, alma de nome
A mim, à terra e aos céus…

E súbito encontro Deus.


(Fernando Pessoa)

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